LITERATURA A SÉRIO VERSUS A OUTRA
Sou dos que acreditam que as gerações mais novas devem ir tendo notícia dos autores passados ao mesmo tempo que tocam os contemporâneos. Assim, a criançada faz muito bem em ter nas mãos livros com ilustrações práfrentex e textos simplezinhos, e ao mesmo tempo tocar os clássicos como o Twain, o Wilde e o Verne (entre tantos). Daí que leia ou proponha regularmente à famíla que viaje até ao mundo de Ivanhoe, Huck Finn ou Crusoe. Mas está a tornar-se uma batalha difícil com as novas edições.
Esta semana, por exemplo, adquiri e remeti para leitura juvenil, "As aventuras de Tom Sawyer", em edição do Público. Deus sabe o que eu amei este livro bem como o seu seguimento (por assim dizer) com o amigo e o escravo, Mississipi abaixo. Mas, por Zeus!, que raio de tradução é esta?! Passou por um minuto pela cabeça do tradutor que as palavras que escolheu para reproduzir o elegantíssimo, porém límpido, texto de Mark Twain eram enfatuadas e desmotivadoras? Desde quando é que a tradução é um exercício de vaidade e não a transposição tão fiel quanto possível da obra encomendada? Eu (como milhões de pessoas) conheço bem o texto do mestre Samuel e, não o estou a ver a escrever parágrafos para crianças como este:
" E era um tão grande regalo aquele acalentar das suas dores, que não podia tolerar que de fora se intrometesse qualquer jovialidade mundana ..." . Nem vou mostrar como é que "a tela se esgaçou" ou reproduzir qualquer discurso de uma das múltiplas personagens dignos do melhor Shakespeare representado em Portugal nos anos 40...
Não sei se esta é uma tradução antiga, suspeito que sim, ou se o tradutor é "antigo". Nesses casos, "shame on Público". Se é recente, fico mais assustado.
Trazer os clássicos juvenis sim. Obviamente. Mas não a qualquer preço.
Para mau, bem nos basta a ideia que a RTP faz do que é melhor para os nossos filhos ou, na literatura, a pavorosa tradução de "Peter Pan", na Relógio de Água.
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